Crítica [#1] - A rede social (The Social Network)

A REDE SOCIAL
Vou confessar que minha primeira opinião sobre o filme da criação do facebook não me empolgou muito. Não entendia porque a crítica elogiava-o bastante, mas de cara vi que a Rede Social não é só o filme sobre a criação do site facebook.com é mais do que isso, isso só é um embasamento para o novo filme de David Fincher.
Assistindo a Rede Social você percebe de cara que o filme trata de guerra de egos, traição e solidão um filme em que questiona até que ponto amizade de internet é uma amizade  verdadeira para uma pessoa do que uma amizade real.  E isso é notado de cara no personagem Mark Zuckerberg e sua relação social com as outras pessoas.

O Filme em si a história (*Trechos importantes tirados da Crítica de Pablo Villaça)
     Criada em 2003 no dormitório de Harvard por um universitário desprezado por todas as mulheres do campus depois de ter desenvolvido um site que servia para classificá-las de acordo com sua aparência física, a rede social Facebook é um fenômeno que, em apenas sete anos, atingiu o inacreditável valor de 33 bilhões de dólares, tornando-se febre em todo o planeta. Porém, esta não é a razão por trás da adaptação da história da empresa para o cinema – se fosse, certamente já teríamos visto filmes intitulados Microsoft ou Apple. Não, o que realmente transforma o Facebook em um tema cinematográfico é a personalidade de seu criador, Mark Zuckerberg, cuja óbvia inteligência revela-se inversamente proporcional ao seu traquejo social.
Interpretado por Jesse Eisenberg (um clone mais interessante de Michael Cera), Zuckerberg é um jovem guiado por seu apego à lógica e que, por esta razão, já surge em cena afastando a namorada por ser completamente incapaz de perceber a crueldade de suas palavras, que, mesmo refletindo a verdade (ou justamente por isso), machucam sem piedade. Programador talentoso, ele afoga as mágoas pelo término do namoro em seu blog (tornando sua situação ainda pior) e na criação de um site misógino que o coloca em uma situação delicada junto à universidade – mas que ainda assim atrai a atenção dos influentes gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss (Hammer), que o convidam a se juntar ao projeto de uma rede social exclusiva para os alunos de Harvard. Tempos depois, quando Zuckerberg lança o Facebook ao lado do amigo brasileiro Eduardo Saverin (Garfield), é a vez dos gêmeos confrontarem o rapaz, acusando-o formalmente de roubar a idéia que lhe fora apresentada por eles.
     Dono de um raciocínio matemático e sempre dominado por uma inabalável racionalidade, Mark Zuckerberg é um protagonista perfeito para o cineasta David Fincher, cujas obras sempre se mostram mais coesas quando dominadas pela razão – o que explica, em parte, o fracasso de seu melodramático O Curioso Caso de Benjamin Button. Uma espécie de mistura do Sheldon da sitcom The Big Bang Theory, do Abed da série Community e do Rain Main de Dustin Hoffman, Zuckerberg é quase um autista social – e a cena que abre este longa é brilhante justamente por ilustrar a incapacidade do sujeito de compreender os verdadeiros sentimentos da namorada durante uma conversa, já que as falas da moça não são acompanhadas por emoticons que revelem suas intenções. Enlouquecedor como interlocutor (“Namorar com você é como sair com uma Stairmaster!”), o sujeito rapidamente compreende onde aqueles que o cercam querem chegar durante as conversas, cortando-os com sarcasmo ou com uma brutalidade impiedosa que surge como resultado de seu desprezo pelo intelecto alheio – e Eisenberg ilustra bem todas estas características através de uma performance marcada pelas falas rápidas e por uma aparente inexpressividade que apenas ressalta o desinteresse de Zuckerberg pelas pessoas de modo geral.
     Esta postura, aliás, se contrapõe diretamente ao calor humano de seu melhor amigo, Eduardo, que finalmente traz Andrew Garfield em sua primeira atuação realmente carismática desde sua estréia no cinema, em 2007. Estabelecendo-se como um jovem simpático e dedicado ao amigo já em sua primeira aparição, Eduardo não é, porém, um executivo dos mais competentes – e sua demora em conseguir enxergar o potencial comercial do Facebook ou mesmo a escala de investimentos que o site poderia atrair acaba colocando-o em confronto direto com o oportunista Sean Parker, que, vivido por Justin Timberlake com surpreendente vivacidade, logo passa a manipular Zuckerberg com relativa facilidade, levando-o a se afastar do velho amigo enquanto abre caminho para sua própria entrada no negócio (e não deixa de ser curioso que Timberlake, um cantor, encarne justamente o criador do Napster, que mergulhou a indústria fonográfica em um caos absoluto). Fechando o elenco principal, o desconhecido Armie Hammer surge como uma promissora revelação ao viver os gêmeos Winklevoss, que, nascidos e criados na riqueza, se mostram sempre seguros de si embora receiem atrair olhares negativos justamente em função de seu físico e de seu status financeiro privilegiados – e ao discutirem se deveriam ou não processar o protagonista, um deles diz: “Seremos um bando de garotos vestindo fantasias de esqueleto perseguindo o Karatê Kid com bastões!”. Colocando-se como antagonistas indiscutíveis de Zuckerberg, os personagens vividos por Hammer são jovens complexos que, seguindo um claro código de honra, evitam usar a influência do pai a fim de conseguirem favores, o que não deixa de ser admirável e contribui para que a narrativa se torne mais interessante.
     Estruturado ao redor dos processos legais movidos por Eduardo Saverin e pelos gêmeos Winklevoss (e pelo sócio destes, Divya Narendra, interpretado por Max Minghella), o roteiro de Aaron Sorkin se diverte ao trazer Zuckerberg criando alguns dos conceitos que hoje parecem lugar comum em redes sociais, como “status de relacionamento” – e, neste aspecto, destaca-se por retratar a programação como uma forma de arte ao enfocar o protagonista entregando-se empolgado à escrita (este é o termo que ele usa) das linhas de código ou à resolução de problemas estruturais do site. Mas é mesmo na construção impecável dos diálogos que Sorkin se destaca, criando falas elegantes e divertidas que já nascem clássicas, como no momento em que Tyler Winklevoos diz: “Eu tenho 1,96m, 99 quilos e há dois de mim!”. Aliás, a velocidade com que David Fincher leva seus atores a recitarem os diálogos de Sorkin acaba transformando A Rede Social em uma espécie de comédia screwball contemporânea, remetendo às parcerias de Howard Hawks e Cary Grant, como Levada da Breca e Jejum de Amor, e construindo uma espécie de balé verbal sempre fascinante.
     Fincher, aliás, se mostra bem mais contido como diretor em A Rede Social, entregando-se a relativamente poucas invencionices visuais e investindo em efeitos visuais que merecem créditos por passarem despercebidos (como em seu magnífico Zodíaco). Isto não quer dizer, contudo, que o filme não tenha uma lógica visual brilhante – e a decisão do cineasta de empregar uma profundidade de campo reduzidíssima na maior parte da narrativa revela-se fabulosa justamente por remeter diretamente ao foco de atenção do próprio protagonista, que parece incapaz de enxergar o mundo à sua volta, mantendo-se, em vez disso, concentrado em detalhes particulares ou em alguns poucos indivíduos presentes em seu universo. Além disso, Fincher e seu diretor de fotografia Jeff Cronenweth acertam na maneira com que retratam o ambiente de Harvard, que surge aconchegante, ostentosa, mas também fria e hostil – algo que contrasta com a seqüência quase onírica que traz os Winklevoos em uma regata na Inglaterra e que é fotografada com luz abundante, cores fortes e, através da técnica do tilt-shift, como uma espécie de miniatura que reflete a realidade quase fantasiosa do universo rico e luxuoso dos rapazes (e que se contrapõe diretamente à falta de glamour da existência de Zuckerberg).
     Sem jamais “decifrar” a personalidade de seu (anti-)herói, A Rede Social até busca trazer sua ex-namorada como uma espécie de “rosebud”, mas, talvez reconhecendo que isto não justificaria todas as contradições presentes nas ações de Zuckerberg, usa a garota mais para amarrar os extremos da narrativa do que para explicar o sujeito – e é justamente por torná-lo um personagem tão intrigante que o filme perde um pouco ao deslocar seu foco para Sean Parker no terceiro ato.
     Pintando um retrato simpático de Mark Zuckerberg – mesmo com todos os seus óbvios problemas de personalidade -, o filme de David Fincher pode ser sintetizado pelo momento em que alguém confronta o rapaz com o fato de que este foi incapaz de manter aquele que, afinal, era o seu único amigo. O que, considerando seu papel como criador da maior rede social da internet mundial, não deixa de ser uma amarga e colossal ironia.

OBS.: A Rede Social lidera oito indicações ao Oscar 2011 entre elas as principais: melhor filme, diretor, ator e roteiro adaptado.

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